A LAMBEDEIRA
Frederico Spencer
Há dentes nesta língua
de aço, terra do sertão
de sóis, que para cada um sobrou:
este pouco quinhão – deserto de lâminas
nesta vastidão
de nada, sobre a terra rachada:
a lama das carcaças dos bichos
e das plantas, cinzas
fotogramas de pessoas embaçadas
ao vento clamando perdão
por desfiar pedras
na terra em brasa,
o sol do sertão:
-Também do suor vive o trabalho
destilando as gentes nestas terras.
Também do suor dessas gentes
se alimenta do talho o vão patrão
neste relicário, o sertão:
- Neste sol nos fizemos palha,
qual o milho e o gado
secamos nestas terras
na gana dos homens
que se alimentam desta ilusão:
aqui depositamos nosso trabalho:
com o suor, ver esta terra virar barro
moenda, de tantos deuses:
fazer chover este sertão.