A NECESSIDADE DA ARTE
“É da própria natureza da arte romper os limites da solidão,
ainda que seja abismando-se nela,
transcendendo-a por baixo”
Ferreira Gullar
Desde o começo da história, o homem se empenha em deixar suas marcas através dos tempos. Na sua intencionalidade, essas marcas foram gravadas como forma de expressão de seus sentimentos, medos e anseios, frente aos desafios da natureza e que também serviram, com o passar do tempo, como meio de garantir às gerações futuras informações importantes para a preservação da espécie.
Através dos desenhos rupestres, que podemos definir, como os primeiros ensaios artísticos do homem, fazemos hoje uma avaliação dos fatos ocorridos num passado distante. Desta forma, o homem foi formando ao longo dos tempos sua história cultural.
Em seu legado, os desejos de sobrevivência arrastaram o homem para os grandes desafios de controle da natureza para garantir a sobrevivência de sua espécie. Neste contexto o pensamento humano, como condição estratégica, torna-se matéria orgânica para a construção de uma nova realidade, buscando a forma mais adequada para sua fixação no meio circundante.
A linguagem humana dá forma ao pensamento, transformando a imaginação em matéria viva, trazendo à realidade o produto do pensamento. Os códigos de comunicação dão forma à fala e à escrita como meio de fixar na natureza as vontades humanas. Desta maneira o homem forja seu universo cultural, esculpido por um mundo subjetivo, codificado por sons e imagens.
Nos tempos atuais os desejos humanos, aportados pela economia de mercado, são construídos pelas campanhas de marketing baseadas no mercado de consumo de massa. O homem atual, distante do seu eu interior, perde seu vigor humanitário, num processo de desconstrução cultural, que o projeta num vazio identitário. Longe de sua essência lança-se na solidão com seus medos e angústias, ateadas pelas ilusões de um mundo sem relações sociais permanentes, onde só ponderam as relações de troca pecuniárias.
Na realidade contemporânea a racionalidade funciona como meio de definição das ações lógicas, imprescindíveis para o trato com o trabalho e das relações que se fazem através dele.
O atual desenvolvimento tecnológico, lastreado pela troca on-line de informações impõe ao homem um modo de vida tecnocrático, que o afasta das relações pessoais e do contato subjetivo com a vida. A linearidade do pensamento lógico-formal subtrai do homem a essência de divinização do seu ser, embrutecendo-o e transformando-o.
As artes em geral têm a função de reinterpretar a realidade que nos circunda, elevando a sensibilidade humana a um extremo de sublimação e de novas descobertas cognoscitivas, impondo ao espírito um olhar para além das fronteiras do pensamento, para um pensamento livre.
É neste contexto que as artes podem assumir um papel preponderante na recondução deste homem tecnológico ao seu habitat primordial; para a copa das árvores, observando a natureza através do seu notebook, conectado com o universo.