A NOVA ARTE
Frederico Spencer
O poeta Ferreira Gullar nos brinda com uma máxima: “a arte existe porque a vida é pequena” - pequena frase de largo espectro, que só um poeta de seu tamanho é capaz de criar. Frase esta que suscita o encantamento e o poder que a arte exerce sobre o homem e sobre toda a sociedade.
Seguindo a máxima do poeta, vamos beber na fonte da história do homem e sua trajetória no processo de dominação da natureza e, consequentemente, na história da literatura ou das artes - ou melhor dizendo, da humanização do homem, como forma de garantir a perpetuação de sua espécie.
Desde o começo de sua existência o homem produziu arte e literatura com o propósito de registrar a memória de suas derrotas e conquistas, através de sua saga pela busca da obtenção de alimentos e na defesa de sua prole. Esta foi uma condição primária para sua sobrevivência.
Das conquistas bélicas surgiram os relatos que enalteciam seus heróis de um tempo sem papel nem tinta, e que, só através dos menestréis tornaram-se conhecidos e sua fama espalhada por várias cidades. Relatos estes que sempre receberam um dedinho a mais de prosa, por parte do relator, para encantar aqueles que entupiam as ágoras antigas.
Assim nasceu a ficção, berço fecundo da linguagem, terreno fértil para uma das mais ricas formas da criação humana, que entre o profano e o sagrado vem escrevendo a história das experiências humanas através dos tempos.
A cultura nada mais é que o acumulo das experiências do homem e o registro destas em cada sociedade. Sem a memória cultural, não seríamos capazes de formar os grupos sociais. A Cultura difere os grupos humanos através de suas características, vivenciadas através de sua produção industrial e artística. Ela cria um modelo estético que servirá como base para a formação ética de seu povo. A arte como parte da cultura, constitui a memória e a herança de seus constituintes, reproduzindo suas características e suas peculiaridades.
No mundo atual - a civilização da mercadoria e da informatização dos conceitos - vivemos uma crise de identidade onde a arte e a literatura incorporaram, com a crise do capitalismo, o conceito ideológico do consumo fácil; dos “mouses inquietos” e das políticas públicas estabanadas que beiram o precipício da prestação de contas.
Hoje, aqueles que se propõem às artes e suas teses, vítimas do mecenato do erário público, quase asfixiados, pulsam por ares novos que sejam capazes de aerar seus velhos pulmões. Mas como isso pode acontecer, qual o percentual de acerto? Se ainda não criamos cabelos suficientes em nossas ventas, que possam nos creditar a dizer quem somos!