A POESIA COMO FERRAMENTA DA EDUCAÇÃO

04/06/2015 15:07

Frederico Spencer

 

Recentemente numa turma de pós-graduação em psicopedagogia foi exibido um vídeo. Este vídeo apresentava o belíssimo poema “Tecendo a manhã” de João Cabral de Melo Neto, poeta pernambucano, considerado como um dos maiores poetas da língua portuguesa. O vídeo servia para ilustrar uma aula onde o tema tratado era a afetividade, tema este defendido a unhas e dentes pelos maiores estudiosos da área de educação e desenvolvimento humano, tais como, Jean Piaget, Vigostsky e Henri Wallon, para falar de alguns.

A turma, composta por professores - não vai aqui nenhuma crítica aos diletos, até porque somos obrigados a reproduzir, em certa medida aquilo que o sistema manda - em sua maioria, não percebeu a mensagem do poema: sua beleza estética nem a sua riqueza simbólica, tratando a peça como “o vídeo”, pura e simplesmente. A pergunta é como podemos dissociar arte de educação? Que tipo de educação estamos plantando para o nosso futuro? A educação serve apenas ao mercado de trabalho, ou à qualificação do ser para postulação de suas humanidades? Por que os professores não utilizam a poesia como ferramenta didática?

No estágio atual de nossa sociedade, caracterizado pelo desenvolvimento tecnológico, onde a informação é disseminada na velocidade da luz, parece que a arte caminha a passos de tartaruga, isto é, quando esta arte não atende aos chamados vorazes do mercado. Aquilo que é produto comercial é velozmente consumido por tudo e por todos e de repente nos vemos de barriga vazia de novo. Na fome nos valemos de qualquer coisa, que venha o que a mídia nos diz para consumir.

O problema se apresenta quando pessoas qualificadas, ou deveriam estar, formadoras de opinião e com a tarefa de desempenhar o papel de educador, o mais sublime de todos, sendo a base do desenvolvimento da sociedade, não atentam para a importância da arte na educação e para o desenvolvimento humano, pois não há sociedade sem cultura. O homem que desconhece sua história, sua cultura, não é capaz de escrever seu futuro.

A poesia, rompendo a cortina de fumaça da linguagem prosaica, impõe a quem a lê uma nova visão perante a realidade, fugindo da linearidade de um mundo cartesiano, submetendo o seu leitor a novos padrões de pensamento, devido ao simbolismo que carrega em seu conteúdo, remontando desta forma o mundo-objeto. Sendo a linguagem-pensamento, corpo e mente da realidade, pois sem a mesma, não existiria sociedade nem o mundo físico, devemos requalificá-la, tornando-a mais rica de símbolos e de sentidos, multiplicando o homem, desta forma, em suas humanidades, através das representações que carrega em seu espírito.