O PEQUENO CONTO DE UM REINO
Frederico Spencer
Quatro reis
Um do norte, as terras se estendiam até parte do leste da planície costeira, banhada pelo Atlântico; um do sul e dois do sudeste, que dividiam a parte mais rica daquele império.
O primeiro tímido e servil, destinava sua produção e seus guerreiros em busca da pele e dos ossos dos animais alados e dourados que viviam nos campos minados dos outros reinos.
O do sul sonhava ser estrangeiro, vivia parado e quieto olhando suas fronteiras, remontando uma nova língua para seu povo - distante e febril, dançavam e queimavam a carne de seus bichos em noites de lua cheia.
Os dois restantes comiam e bebiam, maquinavam elevar taxas, cortar créditos e decretar uma festa que durasse o ano inteiro. Por causa da pouca reserva de água em suas terras, embriagavam-se com um líquido escuro e viscoso que brotava do mar onde se formavam praias, cobertas por alvenaria e naves aquáticas - esperavam uma guerra. Vez em quando estranhos seres invadiam suas ruas, encobertos por nuvens de fumaça, alucinados cantavam e dançavam empunhando armas de fogo.
Os quatro reis temiam a morte e a corte, com as cartas nas mãos apostam no mês de março, que sempre vinha com o ranço dos cajus misturado com aguardente. Naquele império todos dormiam cedo. Esperam a batida final para continuar o jogo.