O SILÊNCIO DAS VIDEIRAS

02/09/2015 11:01

Frederico Spencer

 

De repente é o silêncio, como um bálsamo:

alivia a dor, de uma alegria:

os cantos da casa vazios, semimortos

e lá fora a natu(reza) chora a tristeza:

- na mesa o sangue das videiras, com gelo

o silêncio e o corte, da faca

ressus(cita) o desejo

ainda sangra, a tua presença

sobre o meu céu escuro de vinho, esse deus caótico.

Toco fogo no amanhã

para não ouvir o teu arrastado:

- como tua carne sobre a mesa

posta em prata, cristais e linho.

Quero ver o fim do mundo

numa bomba de nêutrons

que seja no silêncio, a dor

que silenciosa liberte a solidão das videiras.

Contanto não me desespero

- vou mais uma vez sonhar no teu jardim.

 

(Este poema, escrito nos anos de 1990, faz parte da coletânea do Livro Linha de Risco).