O SILÊNCIO DAS VIDEIRAS
Frederico Spencer
De repente é o silêncio, como um bálsamo:
alivia a dor, de uma alegria:
os cantos da casa vazios, semimortos
e lá fora a natu(reza) chora a tristeza:
- na mesa o sangue das videiras, com gelo
o silêncio e o corte, da faca
ressus(cita) o desejo
ainda sangra, a tua presença
sobre o meu céu escuro de vinho, esse deus caótico.
Toco fogo no amanhã
para não ouvir o teu arrastado:
- como tua carne sobre a mesa
posta em prata, cristais e linho.
Quero ver o fim do mundo
numa bomba de nêutrons
que seja no silêncio, a dor
que silenciosa liberte a solidão das videiras.
Contanto não me desespero
- vou mais uma vez sonhar no teu jardim.
(Este poema, escrito nos anos de 1990, faz parte da coletânea do Livro Linha de Risco).